quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida
e olho meus companheiros.
Estão taciturnos
mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande,
não nos afastemos.
Não nos afastemos muito,
vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer,
a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria,
do tempo presente,
os homens presentes,
a vida presente.

Carlos Drummond de Andrade

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